Humberto Sotto Mayor


terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Astro


Publicada por Sotto Mayor à(s) terça-feira, dezembro 04, 2012
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* * * * * Retrato a carvão * * * * * Autor - Humberto Sotto Mayor

Minhas Lágrimas Cansadas

Linda Leonardo, canta versos de Humberto Sotto Mayor

Humberto Sotto Mayor

Versos que gravei

******

Aquela moça da aldeia

Américo Durão / Fado Pinóia

*

As palavras

Manuel Alegre / António Chainho

*

Cana verde – Popular

*

Canção da moleira

Humberto Sotto Mayor / Popular – Arr. Jorge Fonte

*

Canção da terra prometida

João Dias / Alfredo Duarte

*

Cavalo Ruço

Paulo Vidal / Frederico Valério

*

Depois dos mitos varridos

João Dias / António Chainho

*

Eu não sei porque razão

Humberto Sotto Maior

*

Eu sou livre como as aves

Manuel Alegre / António Chainho

*

Fado alentejano

José Régio / António dos Santos

*

Fado das touradas

Hugo Vidal / Luís Galhardo

*

Foi numa feira raiana

Maria Lídia de Sena / Manuel Maria

*

Gaivota

António Lino de Portugal / Jenny Telles

*

Letra para um hino

Manuel Alegre / António Chainho

*

Lírio roxo

Humberto Sotto Mayor

*

Lisboa perto e longe

Manuel Alegre / António Chainho

*

Minhas lágrimas cansadas

Cristóvão Falcão / Jorge Fontes

*

Não mais

Humberto Sotto Mayor / Fado Alberto

*

O além do nosso fado

Humberto Sotto Mayor / Fado Mouraria

*

O Malhão

António Botto / Popular

*

Papoilas rubras

Humberto Sotto Mayor / António Chainho

*

Passado

António Calem / Fado Cigano

*

Põe as tuas argolas nas orelhas

Domingos Silva / Fado Margaridas

*

Quando canta o rouxinol

Humberto Sotto Mayor / Alain Oulman

*

Quero acordar no meu peito

Fernando Peres / Fado das Horas

*

Rosa brava

António Lino de Portugal / Fado Meia-noite

*

Sou como um grão que se agarra

Maria Manuel Cid / Fado Amora

*

Sou do Fado e canto o Fado

Humberto Sotto Mayor





Orgulho

Não, não lamento nada
do que fiz;
Nem passado,
...nem presente
e nem lamentarei
o futuro.

O bem e o mal
que me fizeram
foi sempre tudo igual
e inseguro.

Todos trilharam
a mesma ansiedade...
Uns foram deuses
outros demónios
uns feios, outros belos
uns brancos, outros pretos...
mas todos com a mesma vontade
a morder-lhes a pele.
Não, não lamento nada!
Não há nada a lamentar
quando se vive beleza.
Nem rejeito sequer
a incerteza
de amar ou não amar.

Não,não lamento nada!
Que o orgulho
não me deixa lamentar!


Humberto Sotto Mayor

Já canta o dia!

Já é dia...
e vem o sol...
E o pardal dourado...
no telhado,
já tem seu ninho
remendado...!
Estou triste...
muito triste!!!
Só me apetece chorar...
Mas vem o dia
com o seu cantar
e canta o coração lavado
da chuva que caiu...
E o meu amor vazio
acorda num poema,
nos lençois desta cama,
com cheiro a alfazema !!!

Humberto Sotto Mayor (Inédito ) 2012

Primavera

Vi hoje uma andorinha !

E as flores do meu jardim
...começam a abrir.
Os melros andam loucos
numa correria !!!

É tempo de alegria !

O sol nasce mais cedo
e o ocaso é mais tarde …
Os poentes começam a ser lindos...
Os campos estão floridos
e a relva verde!
As árvores florescem.
Tudo nasce , tudo cresce
sem canseira.
A terra cheira a vida
e a flor de laranjeira.
As aves fazem os ninhos
com desvelo , com cuidado...

E as andorinhas
vão sujando,
o beiral do meu telhado...

Que fosse assim todo o ano,
quem me dera ! Quem me dera...!
Que fosse assim todo o ano
uma eterna
primavera !


Humberto Sotto Mayor

"Ambição"

Eu quero o meu Verão por Primavera
a covardia feita continência…
Virar este Planeta de quimera
no luto fuzilado à minha permanência.
*
Eu quero a melodia feita abstinência,
...quero o meu corpo grito de vingança,
quero o protesto, o punho, a inocência
dos que acreditam no amanhã da esperança.
*

Quero descalço percorrer o mundo
sentir os pés nas chagas da ignorância!...
Proibidos salmos vindos do profundo
tragam-me o pólen sagrado da distância.


Humberto Sotto Mayor

Corre

Humberto Sotto Mayor / José Lúcio Ribeiro de Almeida

*

Corre!

*

Vem correr esta seara

que já seca;

Vem comigo!

Eu contigo

sou o grão,

joeiro o trigo

e dou-me em pão!

*

Corre!

*

Vem comigo!

Corre esta seara

onde o trigo morre

e onde o pão escasseia!

Corre!

Desfaz a teia

Que nos embrenha.

*

Corre!

*

Mata-me a fome

que na minha boca

se desenha.

É tarde

É tarde!
Já há nuvens nos meus olhos,
escuridão nos meus ruídos,
...ouço trovoadas nos meus poços
e já arde
o meu poente de sentidos.

É tarde!
Já trago algemas nestas asas
que fechei, nas cinzas das cadeias.

É tarde!
É tarde porque venho
na bruma nevoenta de um desenho,
a arrastar ciprestes
pelas veias.

É tarde para o amor,
é tarde p´ra raiz,
é tarde p´ra curar
a minha cicatriz.

É tarde para a arte;
É tarde para o perdão...

Só é cedo
para a imaginação!

Humberto Sotto Mayor


"Foi numa feira raiana"

É uma história singela
para mim foi a mais bela
aquela que vou contar
...de tal maneira sentida
deu-me novo rumo à vida
como lenda de encantar.

Foi numa feira raiana
que eu encontrei a cigana
que prendeu meu coração,
para ler a minha sina
na sua mão pequenina
ficou presa a minha mão.

Com seu olhar peregrino
ia lendo o meu destino
meu futuro e meu passado,
mas quedou-se admirada
quando me ouviu enleada
baixinho,cantar-lhe o fado.

Foi tão grande o devaneio
fiquei perdido no enleio
daquela paixão primeira,
que aos seus olhos assustados
tão meigos,envergonhados
me prendi naquela feira.

Nunca mais vi a cigana
que foi noutra caravana
para os lados d'Alenquer,
nunca mais cantei o fado
mas fiquei enfeitiçado
e não a posso esquecer.
*
*
Humberto Sotto Mayor

Não mais...

Humberto Sotto Mayor / Fado Alberto

Não mais amor,não mais,que esta saudade
É folha já cansada que caiu...
Como um barco no cais que não partiu
...É adeus com sabor de liberdade

Não mais perdão,não mais,quero sentir
Que a tua piedade fere o rosto...
Não mais viver,não mais o teu desgosto
De me quereres derrotar sem destruir.

Não mais a dor,não mais,que se evapora
E o meuciúme tem petrificado,
Eu não quero sentir-me um condenado
Que vai morrendo um pouco em cada hora

Não mais,riso não mais,eu hei-de ouvir
Da noite que ficou só num instante,
Não mais lembrar o afago torturante
Dos corpos que beijei sem possuir.

Não mais pranto ,não mais,vou entendendo
De lágrimas teus olhos perturbar
Eu só quero ser livre para amar
E mais cada vez mais me vou prendendo.

"O Amanhã Sou Eu"

Não!
O amanhã sou eu!
Sou eu que hei de rasgar
...a tua carne
em pétreas chagas!
Sou eu que hei de crucificar
o teu ventre!
Sou eu que vou roçar as fragas
em que esculpiste
o meu presente…

Não
O amanhã sou eu!
Sou eu que irei fantasiar
de sol nascente
as tuas mãos!
E esse teu corpo
decadente
refulgirá de cio!

Não!
O amanhã sou eu!
Um amanhã agreste
pardacento
e frio!


Humberto Sotto Mayor

"O Pregoeiro do Fado"

Sou pregoeiro
do fado desta Lisboa
e meu pregão vai à toa
...por Lisboa a vadiar.
Sou pregoeiro
meu pregão é um amigo
que tenho por meu castigo
de cantar.

Tenho cantigas
lindas, muito antigas
ai,
faço presente do passado
às raparigas
que quiserem vir comigo
para o fado recordar
e dou de caras
pois,
só coisas raras
ai,
nesta canção que por condão
eu vou cantando
a apregoar.

Sou pregoeiro
um ferro-velho do fado
tenho o destino marcado
de viver a recordar.
Sou pregoeiro
meu pregão é um fado antigo
que tenho por meu castigo
de cantar.


Humberto Sotto Mayor

"Outono"

Dança o Outono
como dono
dentro de mim.
Nele me encontrei
...nele me perdi…
com as folhas caídas
doiradas, ressequidas
me construi.

Com o vento agreste
e as primeiras chuvas
me realizei.
Ele me deu das maiores alegrias
que sonhei.
Ele me enerva
me entristece
e ensurdece.
E nele eu sinto que estou já.
Ai este Outono que me trouxe
e eu sei me levará.


Humberto Sotto Mayor

Humberto - Guitarra: José Luis Nobre Costa - Viola: Mário Maduro

"Outubro"

Meu mês é Outubro
meu signo a Balança!

...Minha força
é espada que não cansa
malhada em ferro ao rubro…

Trago comigo a raiva da esperança
e o cansaço de quem vive
outra lembrança!

Declínio de vivências
de outro tempo, outra revolta.
Saudades de menino
que já foi
e que não volta.
Orgulho que não cubro
do que fui e do que sou,
em tempos de mudança.

Meu mês é Outubro
e meu signo a balança


Humberto Sotto Mayor

Humberto e Linda Leonardo

Pensamentos

Às vezes penso que sou
às vezes penso que estou
por vezes penso que penso
...às vezes penso que sonho.

Se sonho não me convenço
da realidade em que sou
e quando penso que estou
por vezes não me pertenço.

Convencer-me do que sou
só se for em pensamento
porque não sei onde vou
nem aproveito o momento.

De tanto sonho sonhado
só me fica o sentimento
de tudo já ser passado
e ter voado no vento.

Por isso quando consigo
estar comigo aonde estou
sonho que tudo o que digo
é aquilo que não sou.

E nas palavras que escrevo
em poemas sem sentido
sinto que nunca me atrevo
a dizer, o que é devido.

Portanto sem comentar
fico-me assim…a pensar!


Humberto Sotto Mayor

Recordações de um campino

Foi noutros tempos
cavalgava à desfilada
pela lezíria
...a manhã mal era nada;
no céu difuso
o sol a marcar o trilho
meu coração

C´o a força de um novilho
batia mais
ao encontro da manada
que do sono despertada
se agitava nos currais,
via-a depois
pontilhando a extensão
e no verde da campina
pôr vida e animação

Ah velhos tempos
em que eu numa tourada
pegava toiros
numa alegria estouvada;
Peito bem alto
em atitude tão rara
desafiava
o animal cara a cara;

Tudo é passado
e agora como amarra
revivo ao som da guitarra
toda a dor que me ficou...
Recordações
da perdida mocidade
que se resumem sómente
numa palavra:Saudade.

Humberto Sotto Mayor


Reflexos

Porque me olhas assim ?
Porque me tentas dizer
tudo aquilo que já sei ?
...Que esta imagem de saudade
traz a voragem da idade
da sombra que então sonhei.

Porque refletes a alma
no labirinto sentido
da minha sensualidade?

O que vejo é fantasia,
ou o meu corpo vazio
a tremer de medo e frio
na noite desta paixão?!

Será o instinto animal
ferido,numa ilusão?
Ou revejo o sofrimento
duma vaga melodia
no drama da realidade...?
Porque escondes a verdade
atrás destas rugas vivas
que crucificam meu rosto?

Porque persiste a certeza
deste cansaço rebelde
emboscado no desgosto ?!
Por fora são as ruínas
duma carne já vencida...
Mas a luz interior
é mais viva e colorida
do saber experimentado...

O corpo já está dorido
de tanto caminho andado...!

Porquê esse teu olhar?
Porque paira nos meus olhos
essa sede duvidosa?
Porque dizes que estou velho?
Porque se quebrou em mim
tudo aquilo que senti
como se quebra

este espelho!!!!!?


Humberto Sotto Mayor

O Por-do-Sol do Meu Fado





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Não mais

Passado

Põe as tuas argolas nas orelhas

Sou do Fado, canto Fado

Cantos e Desencantos

Cantos e Desencantos

Vem Gaivota vem, vem

Vem gaivota vem
vem num astro
vem num sonho
vem num mastro
vem no frio
vem no tempo
vem no vento
vem num rasto de um navio

Vem no preciso momento
vem numa onda do rio

Faz o ninho numa fraga
vem na vaga
vem na voz
vem numa estrela-do-mar
vem no luar que há em nós

Vem na triste melodia
vem num grito magoado
vem num cantar de agonia
e vem na asa de um fado

Se na hora da chegada
ainda ouvires o meu cantar
se eu tiver fogo na mão
e uma chama no olhar
leva a minha voz cansada

E pelo azul do mar
espalha o meu coração

Humberto Sotto Mayor


No cais

Do cais partem navios
e outros vão chegando...
No cais da descoberta
... há outros mares.
A amarra é um deserto,
vicio,
que me mantém desperto
e me prende a esse cais.

Mas há mais!
Há muito mais!
Há uma cidade aberta
invadida por chacais !!!
E há sol e água e vento
e há um momento
de dizer adeus...!

Adeus !
Não digas mais !
É tudo tão banal
e tão fugaz,
que já não sou capaz
de permanecer
igual !!!

Humberto Sotto Mayor

( Inédito)-2012

Ah, meu amor marinheiro

Trazes maresia nos olhos
E tens marés no andar
Ah, meu amor marinheiro
De tatuagens de mar!

São teus cabelos procela
Numa nau de andarilho...
Dos lábios compões a vela,
Com que aportas à janela
Dum astro,farol de brilho.

Vejo em ti mil horizontes
Sem termo de areal,
Ah, meu amor marinheiro
De corpo de vendaval.

Conta-me histórias que inventes
De outros mares,de outras paragens,
Emboscadas em que tentes
Vencer-me,noutras miragens...

Conta-me estórias de tramas
Ilude-me imaginando,
Mas não digas que me amas
Quando te deitas em camas
Sem que por mim vás passando.

Mente-me amor,mente mais
Em contos tão irreais,
De outras partidas de mares
E em fantasias de horror...

Ah,meu amor marinheiro
Mente em tudo o que sonhares
Só não mintas...no amor!

Humberto Sotto Mayor

"Anda meu amor, beija-me todo"

Anda meu amor, beija-me todo…
E vem dizer-me que sonho ou fantasio;
não pode ser real este abandono,
...quando é ardente o nosso desvario.

Anda meu amor, beija-me todo…
Fustiga já, meu corpo de desejo;
morde a minha carne num anseio de gozo
de adivinhar-te mais, em cada beijo.

Anda meu amor, beija-me todo…
Que sinto a raiva rasgar-me neste abraço,
não amoleças de mim este meu sono,
nem apertes os lábios de cansaço!

Anda meu amor, beija-me todo…
Afunda-me bem nesse teu negro olhar.
Dá-me a beleza singela do teu gosto
num gesto de palavras, sem falar.

Anda meu amor, beija-me todo…
Crava as tuas mãos na minha pele macia.
,Abre-me em sorriso o auge que ignoro,
sempre que renasço em sopro de alegria.

Anda meu amor, beija-me todo…
Não temas o gritar da realidade!
Pois tudo é belo quando é sincero
e tudo é puro quando é verdade.


Humberto Sotto Mayor

"Chuva"

Ai esta chuva miudinha
que me gangrena os braços…
Esta chuva miudinha
...que me arrasta as pernas
e em que me sinto barricado.
Esta chuva miudinha
como corda de insónia e covardia …
Como espelho em que me vejo
facetado.


Humberto Sotto Mayor

Conjecturas

Nunca gostei de ir à missa
Nem à confissão, confesso
Para quê estar entre gente
De quem não gosto ou conheço

...Para quê contar a outro
As asneiras que faço
Eu apenas obedeço
Eu apenas estou ao leme
Eu apenas cumpro ordens

Quem está tranquilo não teme
Mas demo-nos sempre bem
E eu gosto muito Dele
E sei que gosta de mim
Pronto...fiquemos assim!

Mas vou vê-Lo muitas vezes
E nesse silêncio e calma
Eu expando a minha alma
E conto-lhe a minha vida...
Quando me prega a partida

Fico preso, não vou vê-Lo!!
E é assim que me vingo!

Todas estas conjecturas
Apenas, porque é Domingo!

Humberto Sotto Mayor
Domingo, 29 de Agosto, 2010

Incógnita

Depois o que será?
depois da treva
me cobrir o olhar,
o que virá?
Onde estarei?Onde estarás?
Teremos mãe?
Teremos pai?
E os nossos filhos
por onde andarão?
Como serei?O que serei?
Terei idade?Ou não terei?
Seremos todos belos
para além da sombra?
Virá a luz?Virá a claridade?
Atingiremos finalmente
o cume da serenidade?
Seremos sol?Seremos lua?
Ou simplesmente
um pardal de rua?

E o nosso amor?
Os beijos que trocámos?
O bem ou o mal
que nos tocou
e tudo o que deixámos?
Seremos dois?Seremos mais?
Sejamos o que for...
uma alga,uma estrela
uma flor...
uma gaivota.
Ou alma,ou vento ou mar
ou néctar,perfume.
ou côr?
Sejamos nada ou sejamos tudo
mas num só amor!

Humberto Sotto Maior

Já lá vão quase dois anos

Humberto Sotto Mayor / José António Sabrosa

Já lá vão quase dois anos
Já colhemos desenganos
Já vivemos tempestade
E as nossas vidas
cruzadas
Por capricho envenenadas
...Transpiram falsa verdade

Já passaram tantos dias
Já sofremos alegrias
Já soluçámos na lama
Que as nossas almas sadias
Andam agora vazias
E até cairam em fama

Já lá vão quase dois anos
Deixámos de ser humanos
Por beber o fel da rua
Ouvimos dobrar finados
Mas não estamos acabados
Que o nosso amor continua


Medo

Se eu te tomar em posse de loucura
afagando os teus cabelos junto ao
mar,
há pinheirais imensos de ternura
...e as ondas
revoltas vão contar
que há um belo segredo entre nós
dois.

Depois…
Vamos ser alvo de apontar,
murmúrios vão-nos roubar a
luz do sol
Que importa?!
Se o nosso segredo já não é mais belo,
haverá
outro sol no nosso olhar
e iremos bater a outra porta,
pois é outro o
caminho a percorrer.

Mas ainda que ignoremos esse dedo…
Acabaremos
sempre por ter
medo!


Humberto Sotto Mayor

Seguidores

Humberto - Maria Armanda e Fontes Rocha

Mulher

É dessa luz que trazes no rosto
Que é feita a paz do teu abandono;
É com a flor aberta ao sol posto
Que tu vindimas os frutos do Outono.

...É da pureza da água da fonte
Que é feito o mel da tua canseira
É com o aroma da seiva do monte
Que o trigo loiro tu malhas na eira.


É da ternura que pões na enxada
Que a tua boca se enche de amor;
E é com o cheiro da terra lavrada
Que esse teu peito transpira calor.

É com os lábios que beijas o sol
Na alvorada de um dia melhor
E é com a urze que pões no lençol
Que tu perfumas a raiva e a dor.

É do suor que fazes o canto
Que tu ensinas àquele que passa...
E é com o sangue do teu desencanto
Que tu transmites a força da raça.

É com o filho que trazes ao colo
Que tu aqueces o Inverno da vida;
E é com a cruz que arrastas no solo
Que o teu regaço se torna guarida.

Tu és a cor que trás a manhã
Tu és mulher,és força de gente
Tu és a mãe,a amante,a irmã
És a raiz,a flor e a semente.

*
Humberto Sotto Mayor

Humberto e o amigo Pancho

"Olhos negros"

Humberto Sotto Mayor

Olhos negros,
olhos negros…
Meus poços negros sem fundo!
Meus vitrais de luz difusa,
meus nardos feitos de noite,
...minhas estrelas de breu,
meus faróis do fim do mundo.

Meus cristais feitos de céu
em dia de trovoada.

Vós sois um mar de procela,
sois a nau desmantelada,
na fúria do vendaval;
Olhos negros,
olhos negros
de cor negra boreal;

Contraste do branco sal.

Sois a pureza do negro.
a verdade feita cor.
Cor negra, negro profundo…
Olhos negros, olhos negros,
dois Outonos do meu Mundo!

Quando canta o rouxinol

Humberto Sotto Mayor / Alain Oulman

Quando canta o rouxinol
Sabem todos que ela passa
Sabem todos que ela passa
Naquela rua da Graça
...Em escadas de caracol
Em escadas de caracol

Muito ligeira e ladina
Faz bailar a sua saia
Não há ninguém que não caia
Nas redes dessa varina
Nas redes dessa varina
Muito ligeira e ladina
Faz bailar a sua saia

E lá vai ela descalça
Com as chinelas na mão
Com as chinelas na mão
E a orvalhada no chão
Sua beleza realça
Sua beleza realça

Madrigais em cada esquina
Ela ouve quando passa
E faz mesmo inveja à Graça
A graça dessa varina
A graça dessa varina
Madrigais em cada esquina
Ela ouve quando passa

No seu avental bordado
Há motivos de relento
Há motivos de relento
E os seus cabelos de vento
Cheiram a mar e a fado
Cheiram a mar e a fado

Quando canta o rouxinol
Sabem todos que ela passa
Vai com ele a nossa raça
No brilho dado p´ lo sol
No brilho dado p ´lo sol
Sabem todos que ela passa
Quando canta o rouxinol


Tempo de gaivotas

"Quem Foi"

Letra e música:
Humberto Sotto Mayor

Quem foi,
que me deu esta tristeza
e me roubou a beleza
...que eu via em todos os astros?
Quem foi?
que me deu só desespero
me negou tudo o que quero
e me traz assim de rastros?

Quem foi,
que me votou ao desprezo
e até as contas que rezo
me trazem só desabrigo?
Quem foi,
que me deu só falsidade
me lançou nesta ansiedade
que trago sempre comigo?

Quem foi,
que me fez assim diferente
do resto da outra gente
que nunca sente o que diz?
Quem foi,
a causa da fantasia
que me mata dia a dia
e me faz tão infeliz?

Quem foi,
que me levou e ternura
em troca desta loucura
do meu ser amargurado?
Quem foi?
Ai não foi Deus certamente
que me fez assim diferente
só p´ra cantar este fado.

"Surdo Desejo"

Eu sou a lama que tu vais pisando
ou o orvalho a transformar-se em água
eu sou a onda do mar agonizando
e sou a nuvem chorando a tua mágoa

Eu sou a raiva semente das entranhas
sou o profeta sonhando a liberdade
sou o cardo florido das montanhas
e sou o lago que espelha claridade

Sou o ninho, sou a água ou o sudário
sou o lírio, ou rosa ou alvorada
sou ilusão ou sonho ou o calvário
ou redenção da tua madrugada

Eu sou a raíz sou pensamento
eu sou a bruma convertida em luz
sou a força, a escuridão, o vento
sou cravo pregado em tua cruz

Sou tudo o que quiseres, surdo desejo
o sangue, a chama, o cativeiro, a dor
sou a essência que se dá num beijo
quando te chamo em segredo

Meu Amor!

Humberto Sotto Mayor

"Tarde de Trevos"

Tarde de trevos…
alvoroço de acordar de rios,
beijos de laços
...feitos fogos-frios,
num apagar desta fogueira
que roi o Universo.

Tarde de trevos,
negros,
foices de oiro,
que eu revejo
e beijo.
Tarde de trevos
verdes de desejo,
como clarins
que cantam alvoradas.

Tarde de trevos
belos,
lençóis de linho!
Tantas folhas
que conto e leio
e adivinho
nas nossas almofadas!


Humberto Sotto Mayor

"Violino Calado"

Somos tantos e tão poucos
nenhuns, quase todos loucos…
Somos tantos e tão poucos
...no amanhã que há-de ser.
Do muito pouco que tenho
da raiva, apenas o gesto
trago nas mãos, tão doídas
de arrastar esta quimera.
Quem me dera, quem me dera
que houvesse apenas subida…

São violinos que tocam,
não entendo o seu tocar…
Tenho comigo a ventura
de os poder adivinhar…
São melodias que abrindo
caminhos, não deixam rastros.
Somos tantos e tão poucos
nesta viagem com os astros.

A força de que provém
esta força que me alenta,
que me anima e me enriquece,
me dá razão de viver,
me transporta, me enobrece
e que apesar dos espinhos
não morre, nem esmorece,
vem de Deus!

Somos tantos e tão poucos
Tão poucos, assim tão poucos
e quase todos ateus!


Humberto Sotto Mayor

Murmúrio do meu cantar

Metáfora

Qual metáfora vieste para mim
para que eu adivinhasse quem tu eras...
Tudo era aroma de seiva e alecrim
nas tuas vinte e cinco primaveras

Flagelado,resisti e foi assim
que atingiste a minha fome com quimeras,
mas no silêncio pressenti o fim
das horas exaltadas que me deras.

Quisera eu dizer-te o que não sei
da minha tão premente solidão
que me ficou dos sonhos que te dei...

Quisera eu em ti ter confiança
ou que esta vida não fosse um turbilhão de encontros,desencontros ,sem parança!

Humberto Sotto Mayor

O além do nosso fado

Humberto Sotto Mayor - "Nova Tendinha"

Humberto Sotto Mayor - "Nova Tendinha"
Revista "Casa da Sorte" 1957 - Caricatura de Jorge Rosa

"Nova Tendinha"

A Lisboa boémia e fadista
que canta e ri
gosta de aqui vir beber
é alegre rambóia e bairrista
e já ouvi
até que bebe p´ra esquecer

Vai um copo outro copo
e depois
aí vão mais dois
e bebe-se à toa
Eu já bebi ,tu pagaste
eu paguei-te
mas nada de leite
q’isso inté me enjoa

ESTRIBILHO

Oh velha tendinha
se o Rossio é meu
tu és muito minha
e eu sou muito teu
´té causa embaraço
e até nos faz confusão
em tão pouco espaço
caber tanta tradição.

Na tendinha uma fama surgiu
tão popular
da boémia e do pifão
que começou a vir fidalguia
p´ra se encostar
c´o povo ao mesmo balcão

Os pinoias, boémios fadistas
e os artistas fidalgos até
majestosas com ar de rainhas
vinham fidalguinhas
p´ra ver como é

Humberto e Ondina

Humberto e Ondina
Revista Aleluia - 1942

Os Bimbos do Volfrâmio - Revista Aleluia - 1942

D.Zefa
*
Isto é que foi uma mina
Pois desde que temos massa
já semos de gente fina
E andemos na linhaça
*
Sr. Manel
*
Isto agora é que é rénar
Acabou-se a pelintrice
Vamos gozar a fartar
Puxados à fidalguice
*
Os dois
*
Oh ai meu bem
Tiroliro
Isto é que é giro

*
Ela

*
Seu Manel tenha inlegância

*
Ele

*
D.Zefa tenha proa

*
Os dois

*
Oh ai meu bem
Pistarim agora sim
Puxadinhos à sustância
Agora é que ela vai boa
*
D.Zefa

*
Vou cortar o carrapito
Vou pôr-me à dernier cri
Mas depois vai ser bonito
Quando fizer mija-en-plis

*
Sr Manel

*
Para ser da moda um ás
Já me pus todo inlegante
Casaco de racha atrás
Bota de punta adiante
*

Os dois

*
Oh ai meu bem…


Humberto e Ondina

Humberto e Ondina
Revista - Chá de Parreira - 1929

Recrutas e Sopeiras - Revista - Chá de Parreira - 1929

Recruta:

*

Rica prima, que soidades

Há que meses te não via

*

Sopeira:

*

Há um ano na cedade

Vou dar-te uma novedade

Que até morres de alegria

*

Recruta:

*

Tanto tempo a tomar ares

Diz-me lá como isso vai

*

Sopeira:

*

Apesar de cá não estares

Nem com isso te ralares

Estás outra vez p’ra ser pai

*

Ai que sarilho

*

Recruta:

*

Ser pai dum filho

*

Sopeira:

*

Vais ter João

Um anjinho miudinho

E o padrinho é o patrão

*

Recruta e sopeira:

*

Ai que sarilho

Ser pai dum filho

Vais ter João

Um anjinho miudinho

E o padrinho é o patrão

*

Recruta:

*

Muito alegre, eu vou ficar

Quando vir um filho meu

*

Sopeira:

*

Para eu to arranjar

Tu nem podes calcular

A maçada que me deu

*

Recruta:

*

O rapaz, eu tenho esperança

Que se vai parecer comigo

*

Sopeira:

*

Quando olhares p’rá criança

Hás-de ver que a semelhança

É na testa e no imbigo

*

Ai que sarilho

Ser pai de um filho…


Humberto

Humberto
Revista - Feira de Agosto - 1936

O Penitente - Revista - Feira de Agosto - 1936

Santinho dos meus amores
Oh santo dos meus caprichos
Dou-te a massinha p'ra pores
Santinhos novos nos nichos
*
És um santo piroleiro
Como outro 'inda não vi
Eu já não tenho dinheiro
Porque to dou todo a ti
*
Tiro liro liro, ai lé lé
Tiro liro liro, ai, ai, ai,
Este santinho não cai
Tiro liro liro, ai, ai, ai
Tiro liro liro, ai lé lé
É um santo sempre em pé
Tiro liro liro, ai, ai, ai
Tiro liro liro, ai, ai, ai
Este santinho não cai
Tiro liro liro, ai, ai, ai
Tiro liro liro, ai lé lé
É um santo sempre em pé
*

Oh santinho milagroso
Perdoa-me a penitência
Que eu já 'tou tuberculoso
Com tanta e tanta exigência
*
Tu não gostas de arraiais
Acabaste com as promessas
Tiraste o fogo dos mais
Só tu é que tens as peças
*
Tiro liro liro, ai lé lé
Tiro liro liro, ai, ai, ai...


Humberto e Ondina

Humberto e Ondina
Revista - O Pirilau - 1941

Sacristão e Anjinho - Revista - O Pirilau - 1931

O sacristão na capela
tem várias obrigações,
limpa a pia e atiça a vela
e ao coto corta os morrões
*
Anjinho:

*
Também eu, também eu, também eu
*
De manhã faz peditório
e à tarde toca no sino
e no fim ao S.Gregório
limpa a pilinha ao menino
*
Sacristão:

*
Também eu, também eu, também eu
*
Sacristão e anjinho:
*
Quando sai a procissão
Tão badalão, badalão, badalão
C´o andor vai tudo à brocha
Tão badalão, badalão, badalão
E até eu pego na tocha
E até eu pego na tocha
*
Sacristão:
*
Só no órgão pego às vezes
Principalmente aos Domingos
Quando chega o fim dos meses
Vou à vela e tiro-lhe os pingos
*
Anjinho:
*
Também eu...

*
Mas no sino é um regalo
ao tocar tudo delira
ele faz coisas ao badalo
que o prior inté se admira
*
Quando sai a procissão...


Humberto e Ondina

Humberto e Ondina
Rita e Manecas

Rita e Manecas - Revista Rataplam - 1925

Letra: Alberto Barbosa e Xavier de Magalhães
Música: Raul Portela
*
Manecas:
*
Minha flor, minha linda Rita,
Ainda hás-de vir a ser rainha
Não mereces cara bonita
Ser assim tão pobrezinha
*
Rita:
*
És tão bom, és tão meu amigo
Que eu ao frio e até com larica
Se em teu peito encontro um abrigo
Julgo logo ser muito rica
*
Vem, vem junto a mim
Dá-me o calor da tua mão
*
Manecas:
*
Vem, encher-me assim
Mimosa flor de amor o coração
*
Rita e Manecas:
*
Sós, no Mundo os dois
Sem nada ter
Nem pai, nem mãe
Tu, verás depois,
Que bom vai ser, viver
Sem mais ninguém
*
Manecas:
*
Se eu pudesse, dava-te tudo
Bons sapatos, cetins e jóias
Um vestido todo em veludo
Automóveis e tipóias
*
Rita:
*
Ai Manecas, eu bem conheço
Que o teu falar, não tem bravatas
Mas crê tu que dou mais apreço
À bondade com que me tratas
*
Vem, vem junto a mim...


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